*Colaboração: Milena Nogueira

Perdida na transição do vinil para o CD, a década de 90 não tem um rótulo engessado no cenário musical. Gêneros, subgêneros e novos estilos surgiam a todo momento. O nu metal ganhava força, enquanto o grunge continuava vivo. O indie surgia como gênero e o pop disparava cada vez mais mundo afora. No metal despontavam novas bandas pelos quatro cantos, enquanto grandes nomes desciam alguns degraus, como Metallica, outros ressurgiam depois de um período amargo de ostracismo, como foi o caso do Kiss com o retorno da sua formação original. 

No cenário nacional, a década foi musicalmente intensa e criativa por aqui, mesmo sofrendo as mazelas de um país em crise. As produções musicais foram extremamente variadas abrindo espaço para novos rumos e possibilidades, até mesmo novas formas de trabalhar com o que já existia. Teve de tudo, rock com reggae, rap com rock, pop rock, punk desbocado, skate rock, manguebeat, axé e muito pagode. Uma verdadeira salada mista de ritmos incrivelmente fascinantes. Aliás, a MTV Brasil foi um dos eixos fundamentais que norteou muitas produções musicais com a popularização do videoclipe. A década foi o auge do canal, ditando comportamento e novas maneiras de consumir música. 

Na esfera do metal, em fevereiro de 1996, o Sepultura apresentou ao mundo Roots, seu sexto trabalho de estúdio e gravou seu nome na história do metal. O disco chama a atenção não apenas pelo peso, mas principalmente pela influência da música brasileira e coragem de mergulhar na cultura dos povos Xavantes e enraizar no disco. Algo bem contraditório para uma banda de trash metal. Praticamente um mês depois, o Angra lançou o conceitual Holy Land, seu segundo disco de estúdio, onde retrata o Brasil em 1500 quando foi invadido pelos portugueses. O trabalho também tem grande influência da música brasileira, com referências aos indígenas e sua cultura, mas com arranjos clássicos, normal para uma banda de metal melódico, para simbolizar a Europa na época. 

Enquanto Sepultura e Angra exploravam novos continentes divulgando seus recentes trabalhos influenciados pela música brasileira, a banda brasileira Viper preferiu seguir o caminho contrário e resolveu fincar raízes no próprio país. Após rodar o mundo com o excelente disco Coma Rage, lançou em 1996 o esquisito Tem Pra Todo Mundo em português, mudando radicalmente seu estilo, abandonando o heavy metal marcante e passando para uma pegada mais pop rock. Depois disso a banda teve problemas com a gravadora e encerrou suas atividades, retornando somente em 2005, e continua trabalhando para recuperar a antiga notoriedade.   

Impossível falar dos anos 90 e não mencionar o fenômeno Mamonas Assassinas, banda divertida e criativa que fazia um rock cômico cheio de carisma e conquistou uma legião de fãs em pouco tempo. Infelizmente sua curta e meteórica carreira foi interrompida em um acidente aéreo em março de 1996. A banda estava voltando para casa após um show em Brasília quando o jatinho em que estava bateu na Serra da Cantareira (SP). Todos a bordo morreram. Foi um momento de tristeza desoladora para o país e para a música.

Se na cena musical a década de 1990 foi intensa e criativa, infelizmente não podemos dizer o mesmo no campo político e social. A década foi marcada pelo avanço do neoliberalismo, uma nova faceta do capitalismo, em escala global. Impulsionados pela queda do Muro de Berlim e fim da União Soviética, os países capitalistas tratam de construir e implantar mecanismos para enfraquecer a classe trabalhadora e desmotivar sua organização. No Brasil e em outros países da América Latina, que poucos anos antes vivenciaram o fim dos regimes de ditadura militar, a ideologia neoliberal foi imposta na forma de um agressivo projeto de privatização das estatais e terceirização do trabalho, sob as bênçãos dos EUA com a cartilha do Consenso de Washington.

Cada vez mais precarizada, a classe trabalhadora em geral experimenta nos anos 90 momentos de arrocho salarial, demissões em massa e perda de direitos, pagando sempre a conta das sucessivas crises do capital, enquanto os patrões lucram. Ao mesmo tempo, começa a ser construída uma mentalidade para o trabalho cada vez mais alienante, individualista e competitiva, na tentativa de se destruir de vez os movimentos sociais e as lutas que os trabalhadores travam nas cidades, nos campos e nas florestas.

Embora oficialmente a ditadura tenha acabado em 1985, ao longo de toda a década de 1990 e até os dias atuais podemos escutar seus ecos nos aparelhos de repressão e perseguição do Estado e na violência da lógica do lucro e exploração da terra. Especialmente para quem luta por ela, a ditadura nunca foi embora. Os povos camponeses, ribeirinhos, quilombolas e indígenas do Brasil resistem para garantir o direito à terra e trabalhar nela, preservando seus modos de vida que nada tem a ver com o ritmo e a lógica do neoliberalismo. 

Em 1996, ano de lançamento do Roots, o brutal massacre de um grupo de camponeses do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) escancarou para o mundo o cenário de violência no campo e a perseguição contra os sem terra durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, que preferia manter as benesses e privilégios dos grandes latifundiários. No dia 17 de abril, na região de Eldorado dos Carajás (PA), a Polícia Militar cercou os camponeses que estavam acampados durante marcha pacífica até a cidade de Belém. Dezenove pessoas foram mortas, dezenas foram feridas, mas conseguiram escapar do cerco. Até hoje o crime segue impune. De acordo com dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), entre 1997 e 2002, cerca de 197 trabalhadores sem terra foram assassinados pelas mãos da polícia ou de milícias contratadas pelos senhores do agronegócio.

No mês de junho de 1996, houve o desdobramento de mais um triste episódio de violência no campo no Brasil: a prisão de Darly Alves da Silva, um dos assassinos do líder seringueiro Chico Mendes. Chico Mendes foi morto com tiros de escopeta em 1988, na região de Xapuri (AC), a pedido dos grandes fazendeiros locais. Darly Alves estava foragido desde 1993, e foi capturado no Pará. Meses depois, no dia 25 de novembro, Darci Alves Pereira, irmão de Darly, também foi capturado. Essas prisões não significaram o fim da violência na região, que atualmente vive uma nova onda de ameaças e expulsões contra a população local. Com o aval de Bolsonaro, as madeireiras promovem queimadas e desmatamento que avançam sobre a Reserva Extrativista Chico Mendes.

Ainda em 1996, o então presidente Fernando Henrique Cardoso teve a melhor e a pior taxa de aprovação em seus dois mandatos: 47%, em dezembro, e 30%, em junho. Apesar da popularidade baixa, continuou servindo os interesses privatistas e precarizantes do grande capital, garantindo seu segundo mandato através de uma emenda constitucional aprovada no ano seguinte, após uma série de manobras políticas e compra de votos no Congresso Nacional. Neste mesmo ano, houve eleições municipais em todo o país e, pela primeira vez, foram usadas as urnas eletrônicas no pleito. Embora ela tenha se provado segura e rápida ao longo dos anos, hoje existem movimentos, inclusive encabeçados pelo atual presidente da República, que apoiam sua extinção e a volta do voto impresso, muito mais suscetível às fraudes e manipulações.

Foto: divulgação

O retorno às raízes

No auge da carreira e com a formação clássica, o Sepultura lançou em fevereiro de 1996, Roots, sexto álbum de estúdio. A formação clássica da banda é conhecida, mas não custa mencionar: Max Cavalera (guitarra/vocais), Andreas Kisser (guitarra), Paulo Jr. (baixo) e Iggor Cavalera (bateria). O disco continuou o caminho traçado pelo trabalho anterior Chaos A.D., onde a banda já apresentava a reinvenção do seu som numa pegada mais experimental, deixando de lado o característico death metal do início da carreira e apostando no metal industrial. Em Roots, a banda fez uma aposta arriscada, que deu muito certo, mudando radicalmente seu som voltando às raízes ancestrais, como mencionado no nome do disco. O resultado foi um disco surpreendente cheio de peso, agressividade e diversidade, inspirado na cultura indígena, batidas tribais e instrumentos de percussão da música brasileira.

A aproximação da banda com as raízes da música brasileira começou no álbum anterior, Chaos A.D., quando gravaram “Kaiowas”, música instrumental e com bases acústicas do violão e percussão. O nome faz referência direta aos Caiouás (Kaiowá), povo Guarani localizado em partes da Argentina, Bolívia e no estado brasileiro do Mato Grosso do Sul. A música percorre várias vertentes da música brasileira com ritmos percussivos e um clima tribal. Inclusive existe uma segunda versão da canção chamada “Kaiowas (Tribal Jam)” gravada ao vivo no Mato Grosso com a participação dos Xavantes

Esta canção é inspirada nos povos indígenas chamados “Kaiowas” que vivem na floresta tropical brasileira. Eles cometeram suicídio em massa como um protesto contra o governo que queria tirar a sua terra santa.
– Comentário da banda sobre a música na época

Quando ouvi Chaos A.D. pela primeira vez tomei um susto com “Kaiowas” no meio de tanta música pesada. Foi um tanto surpreendente ouvir aquilo e perceber um pouco depois a mensagem que a banda queria transmitir. Com o passar do tempo, e ouvindo com mais atenção o disco, fui percebendo o flerte da banda com a música brasileira, não apenas em “Kaiowas” mas também em outras músicas. Ou seja, é um prenúncio do que viria ser o próximo trabalho completamente influenciado pelas raízes ancestrais da música brasileira. 

Sempre fui seduzido pela cultura indígena. Óbidos (PA), minha cidade natal, tem forte ligação com a cultura, assim como a maioria das regiões do país, e era habitada por indígenas antes de serem dizimados pelos invasores, vulgo colonizadores. Óbidos era conhecida como Aldeia dos Pauxis, depois foi “elevada” à categoria de vila e, posteriormente de cidade, substituindo Pauxis pelo nome atual. A mudança foi imposta pela Coroa Portuguesa, que obrigava que os nomes de vilas e ruas fossem idênticos aos de Portugal, para substituir ou impedir o uso de nomes indígenas.

Tal assunto despertava meu interesse de maneira empolgante. Um misto de sensações preenchia cada centímetro do meu corpo de um interesse extraordinário. A curiosidade me levava a tantas informações que depois ficava tomado por um sentimento de impotência e raiva. Na escola contavam as mais fascinantes histórias da fundação da nossa cidade com olhos brilhando, mas escondiam as mãos sujas de sangue dos invasores assassinos. 

Danças folclóricas que introduziam a cultura indígena em suas apresentações também despertavam meu interesse de forma mágica. Quando saí de Óbidos para morar aqui em Manaus (AM), estava no auge do boi-bumbá, Festival Folclórico de Parintins (AM). Como o festival acontecia apenas em junho, a capital era palco principal o ano inteiro para as festas, danças, rituais e manifestações dos dois bumbás, Garantido e Caprichoso. Com forte temática indígena e regional, principalmente nas letras, melodias e rituais, versando sobre exploração, dizimação, destruição, resistência e exaltação da nossa diversidade cultural, era um espetáculo deslumbrante. Ficava imaginando como o tema poderia encaixar no heavy metal e, de repente, surge o Sepultura com Roots mostrando ao mundo inteiro que é possível fazer um disco de heavy metal com sonoridade nativa brasileira.

Segundo Max Cavalera, a ideia para o disco foi encorajada quando ele assistiu ao filme Brincando nos Campos do Senhor (1991), dirigido por Hector Babenco, onde missionários americanos tentam converter índios ao cristianismo. A cena que particularmente chamou a atenção do vocalista foi quando o personagem de Tom Berenger salta de paraquedas em uma aldeia. Outra inspiração, segundo Max, foi o trabalho de Paul Simon em Graceland (1986), álbum gravado em parceria com artistas da África do Sul. Quando ele contou a ideia para Gloria, sua esposa e empresária da banda, a mesma falou em tom irônico: “você não é o Michael Jackson”.

A parte do filme em que Tom Berenger se lança de paraquedas (para cair na aldeia) me deu a ideia para Roots. Pensei: ‘Vamos lá gravar um disco com os indígenas. Seremos a primeira banda a fazer isso.
– Max, em sua biografia, “My Bloody Roots”

Só para esclarecer, a comparação a Michael Jackson certamente foi uma referência à música “They Don’t Care About Us”, que teve seu videoclipe dirigido pelo cineasta Spike Lee, gravado pouco antes de Roots, no Pelourinho, em Salvador, com a participação do Olodum, e no morro Dona Marta, no Rio de Janeiro. Muita gente da mesma época que eu com certeza lembra da repercussão do videoclipe e dos olhos voltados para o Brasil, pois a música fala sobre questões raciais e da brutalidade policial contra negros. Aliás, Spike Lee atualizou o clipe com imagens dos protestos Black Lives Matter que invadiram diversas cidades pelo mundo em 2020.

Gloria acabou comprando a ideia e fez o projeto acontecer. Após convencer a gravadora Roadrunner Records, a banda fez contatos no Brasil com pessoas ligadas às questões indígenas, acertou tudo e embarcou para mergulhar literalmente nas suas raízes. A ideia inicial era gravar com os Caiapós, mas a banda foi avisada que eles não eram muito amistosos. Os Xavantes foram escolhidos após a banda ouvir uma de suas músicas em um festival em Nova Iorque. Acompanhada pelo produtor Ross Robinson, a banda seguiu para a região de Camarana, no Mato Grosso em novembro de 1995.

Durante o processo de gravação do disco, a banda era notícia em vários jornais nacionais, coisa rara para uma banda de heavy metal. Recordo de ter visto uma reportagem no programa dominical Fantástico, da Globo. Os quatro integrantes em meio ao povo Xavante, todos imersos na cultura local dando entrevista e mostrando os bastidores da gravação do disco que marcaria a história da música no Brasil e no mundo. O disco ajudou a dar projeção aos Xavantes, conhecido por suas campanhas reivindicativas, assim como por sua cultura de resistência guerreira. 

Foi um choque cultural para os dois lados. Mas foi tudo muito tranquilo, bom para todas as partes, porque todos deram o coração e se empenharam para fazer daquela uma boa experiência. Eles nos falaram que tinham esse sonho, de gravar com os índios e queriam uma música que fosse bonita e forte. Mostramos nossas músicas de cura. Mostramos uma, que ouviram várias vezes e não gostaram. Na segunda, sentiram que podia fazer um arranjo, colocar um ritmo legal e foi assim que gravamos.
– Cipassé, líder Xavante à época da visita da banda
Encontro do Sepultura com os Xavantes em 1996 (CineMauro Produções)

A visita durou três dias e resultou na gravação da faixa “Itsári”, que, assim como o título do álbum, também significa “raízes” na língua Xavante. Gravada na aldeia de Pimentel Barbosa, no Mato Grosso, a música é um dos rituais de cura e foi registrada em um gravador de oito canais alimentado com bateria de caminhões, já que não havia energia elétrica no local. A beleza da música está na poesia do canto Xavante que foi preservado pela banda resultando numa troca de informações com forte sensibilidade: a mais perfeita simbiose desse encontro. 

Roots contou com participações de alguns músicos, incluindo Mike Patton do Faith No More, Jonathan Davis do Korn e DJ Lethal do Limp Bizkit, na faixa “Lookaway”, única música fora do conceito do disco; e também Carlinhos Brown e David Silveria do Korn na percussiva e pesada “Ratamahatta”. Todas as faixas do disco são excelentes, não existe possibilidade de pular qualquer uma. Mesmo não sendo um disco conceitual no tema das letras, considero conceitual do ponto de vista musical. O conceito está enraizado na proposta da banda. Um disco impecável, feito por brasileiros para o mundo ouvir, desde a capa até os últimos sons de “Canyon Jam”, a última faixa. 

Nota de mil cruzeiros na capa

Como uma nota de mil cruzeiros serviu de influência para a capa do disco? A ideia partiu do próprio Max que usou uma antiga nota de mil cruzeiros como inspiração e passou para Michael Whelan trabalhar nela. A imagem icônica do indígena, o S tribal da banda, o fundo com as raízes em vermelho sangue se encaixou em toda proposta do disco.

O design da capa saiu da fotocópia que fiz de uma nota de mil cruzeiros. Tinha uma roda com motivos tribais nela, que acabou estampada no próprio CD. O rosto do indígena na capa também foi tirado da nota. É uma imagem de domínio público, qualquer um pode usá-la. Depois, a enviamos para Michael Whelan, que trabalhou sobre ela. Não precisou fazer muito. Ainda tenho a nota com a imagem original.
– Max sobre a ideia da capa do disco

A agressividade da banda está presente também nas letras. O disco dispara críticas para todos os lados. A ditadura militar é mencionada com muita raiva em “Dictatorshit”, a escravidão ainda existente em “Roots Bloody Roots”, a violência no campo e o assassinato de Chico Mendes em “Ambush”, sobrou até para a antiga gravadora, a Epic, em “Cut-Throat”. Aliás, as últimas frases do verso da música são Enslavement, Pathetic, Ignorant, Corporations, formando a expressão EPIC. Na era dos irmãos Cavalera, a banda sempre teve forte opinião sobre temas políticos e sociais. É fácil perceber que isso partia muito do Max. Hoje me entristece ver o posicionamento da banda comandada pelo isentão Andreas Kisser, incapaz de usar toda a sua influência para denunciar os absurdos que o país sofre com esse governo genocida, principalmente na Amazônia

Quando comprei meu discman anti-impacto da Sony, Roots foi o disco que mais rodou nele. Como ainda não tinha carro, sempre andava mergulhado no meu silêncio externo ouvindo o disco com o corpo vibrando por dentro a cada música. Eu estava numa fase de curtir som mais pesado, a fase hard rock já havia passado e mergulhei inteiramente nas profundezas da raiz do metal. Nessa época conheci um amigo que me apresentou muitas bandas e também comecei a montar minha coleção de discos. Tem um texto aqui onde falo um pouco sobre essa fase de descobertas. Uma época repleta de achados e perdidos onde aprendi muito e amadureci cada camada do meu lado pessoal e musical. 

Videoclipe de “Roots Bloody Roots”

Enquanto a banda estava em turnê de divulgação do disco, eu me preparava para assistir ao vivo um show. Certeza que iriam aportar aqui em Manaus e não havia a menor possibilidade de perder essa oportunidade. Como eu era muito tímido e sempre me sentia deslocado quando estava sozinho em algum lugar, vinha trabalhando esse comportamento inibidor para quando chegasse a hora. Quando Max anunciou sua saída da banda em dezembro de 1996, qualquer hipótese de ver a turnê foi anulada. Só consegui ver a banda ao vivo na turnê do Nation já com Derrick Green no lugar do Max, se não me engano em 2002. A saída do Max foi devastadora. Todos questionavam os motivos já que a banda estava escalando os mais altos degraus da fama e ganhando respeito pelos quatro cantos do mundo. Os motivos nós sabemos e o resto é a história como a conhecemos. 

Por mais que muitos torçam o nariz para o disco ou o chamem de “batucada metal”, tratando de forma depreciativa, é impossível negar sua dimensão e ousadia. A banda se muniu de coragem para cavar fundo e encontrar suas próprias raízes, bebeu na fonte e temperou suas músicas com as várias camadas de sons ricos que temos por aqui, sem deixar a essência do peso e agressividade de lado. Olhando para trás, percebo que foi algo que precisava ser feito na época, e o mais incrível que não está datado. Um trabalho que influenciou e continua influenciando até hoje. Plural no conteúdo, o disco é uma miscelânea de sons, cores e formas. Sempre que ouço, uma miríade de sentimentos explodem dentro de mim ao ritmo de cada música. Costumo dizer que Roots não é apenas um disco de metal feito por uma banda brasileira, é um registro atemporal, é um convite à reflexão sobre a nossa relação com a natureza e a condição humana na terra.

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